Quando iniciei a escrita deste
artigo, pensava nos educadores. Talvez acreditando que eles fossem a “pedra de
esquina” da construção do saber. Tal foi a minha surpresa, quando comecei a
refletir mais sobre o assunto. Lembrei-me logo daquela “pedra de esquina” mais
antiga que “os construtores rejeitaram e jogaram fora”. Não estamos dizendo em
hipótese alguma que os educadores
não são peças fundamentais no processo educativo, mas, que os educandos têm uma rubrica indelével no processo
de aprendizado. Contudo, os estudantes deste século, o brasileiro sobre tudo,
estão “formatados” pelo status quo político, midiático e tecnológico para não
representarem uma força em sentido contrário à atual conjuntura do país.
A criança e o adolescente não
sabem que o que os educadores pretendem é antes de tudo, convidá-los a trilhar
alguns caminhos.
Erasmo de Rotterdam em seu livro sobre os meninos chega à conclusão parecida, quando afirma que o educador realiza, em plenitude, a
paternidade. Essa constatação ganha sentido se compreendermos a vocação de
um pai: Com seu filho ainda jovem, andam pelo parque, pelas ruas, pela praça,
pelos saberes dos livros e das artes pictóricas, com a quase despreocupação de querer
lhe ensinar alguma coisa. Mas, em mostrar-lhe o mundo para que possas apreciá-lo
e assim, que aprendas a ver com os próprios olhos e tirar suas próprias conclusões.
"Os educandos têm uma rubrica indelével no processo de aprendizado"
O que uma criança poderia apreender
nessa caminhada? Os sinais que despertam das rugas dos velhinhos nas praças
públicas - que mostram cansaço, paciência e sabedoria; a mansidão e a prudência
com que os pombos se alimentam nas praças; o som do universo no silêncio da
noite; a música dos pássaros ecoada
da vasta e assustadora floresta; as lágrimas dos menos abastados nos cantões da
vida na cidade; a poesia realista e romântica que ao mesmo tempo em que choca, encanta.
As grandes telas que aprofundam a sensibilidade da
alma; a simplicidade do caipira que nos ensina a conviver com o outro e com as
coisas mais singelas da vida, sem querer nada em troca; os cálculos matemáticos
que estão por trás da arquitetura do universo; a ciência empírica e funcional na
mente dos povos da floresta; a brutalidade do homem que faz as guerras; as
“marcas” da África que adoece “cega”, “muda” e “manca”, para que outros “vejam”,
“falem” e “andem”; a secularização das “nações mais ricas” que teimam ser
minorias. A esperança que nasce do sorriso de uma criança necessitada... O
passeio é vasto e variado. Dificilmente entediará.
Importa salientar também, que se
o exercício da educação é o de paternidade, isso implica depositar nos pais
oficiais a responsabilidade que lhe é própria, sem ocultar a nossa, a do Estado
e a do educando. Se esse raciocínio estiver certo, o educando será, salvo
algumas exceções, reflexo de sua criação, ou reflexo dos seus modelos. Se não o
for, pelo menos trará “embutido” em si, fragmentos (des) necessários. Quanto a
isto, Erasmo adverte para o seguinte: “Apenas
sobre um ponto advertiria com atrevimento, (...) não te amoldes à opinião e ao exemplo muito em voga, deixando
decorrerem os primeiros anos do teu filho sem tirar proveito algum da
instrução. Faze o aprender (...) antes
que a idade fique menos dúctil e o ânimo mais propenso aos defeitos (...)” op. cit.
Muito tem se exigido da escola e
do professor. Existem várias lacunas sociais que insistem que esses dois grupos
preencham. O resultado todo mundo já o sabe. Se a educação não for conduzida,
essencialmente, pela quadra: pais oficiais, “pais educadores” e alunos
interessados, nenhum método funcionará, provocará apenas cócegas aos ouvidos.
Esse será um trabalho que implicará conformar quatro grupos: dois que
estejam dispostos a falar e a indicar (pais oficiais e o magistério), um que
esteja disposto a implementar políticas públicas sérias de educação (o governo),
e o outro que esteja disposto a ouvir, ver e pensar (os alunados). Neste século,
tem sido mais fácil falar e menos a ouvir. Eis um grande desafio pela frente. O
grupo dos que representam o governo tem ganhado com a deseducação. Por uma
questão de natureza, e escolha deliberada, o educador está disposto a falar e a
mostrar, apesar das limitações. E o educando? Está disposto a ouvir, ver e pensar?